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Mulher, mãe e juíza... Ou não necessariamente nessa ordem.

Pessoal, recebi por email e não resisti... precisava comprartilhar.

É exatamente assim que me sinto todos os dias ao deixar meu pequeno
príncipe na creche!

Eu ainda não sou juiza federal, mas quem sabe um dia, né? rss


Fonte:
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI152331,11049-Mulher++mae+e+juiza+Ou+n
ao+necessariamente+nessa+ordem

Márcia Hoffmann do Amaral e Silva Turri

Mulher, mãe e juíza... Ou não necessariamente nessa ordem.

http://www.globalframe.com.br/gf_base/empresas/MIGA/imagens/94C49AC129C3FFB3
578593BA2FC60C6C612B_ScreenHunter_01%20Mar.%2023%2009.57.jpgVivo escrevendo.
Mesmo quando prometo a mim mesma que não vou mais escrever, acabo
escrevendo. Escrever, para mim, é quase compulsão. Fiquei bastante
desconfortável, contudo, com a ideia deste depoimento. Revelar dados
autobiográficos não redundaria numa exposição insuportável? Logo me lembrei,
no entanto, do Amós Oz, que diz que tudo é autobiográfico e que, se um dia
ele escrevesse uma história sobre o caso de amor entre Madre Teresa e Pelé,
com certeza seria uma história autobiográfica: não há história que não seja
confessional. Bobagem esse desconforto tardio, por conseguinte: tudo que já
escrevi, de sentenças a artigos, de mensagens em listas de discussão a votos
de felicidade em cartões de aniversário, tudo tem um quê de confessional.

Fui juíza antes de ser mãe. Achei que daria conta de tudo, numa boa.
Desconfiei que não seria uma mãe tradicional, todavia, já na primeira
gravidez, quando enjoei definitivamente do Rinaldo De Lamare e passei a
devorar Winnicott. Por que ligar para questiúnculas como banhos, fraldas e
papinhas quando refletir sobre a função do holding era tão mais
interessante? Encantada com minha leitura winnicottiana, dei muito colo para
as minhas filhas, deixei-as dormir na minha cama (minha interpretação
comodista dos desdobramentos do holding), não tirava os olhos delas. Afinal,
cuidar para que os legumes da sopa fossem sempre variados não devia ser
assim tão importante, né?

Lá pelas tantas, queria desesperadamente voltar a trabalhar. E, ao voltar,
chorava desesperadamente por ter deixado meu bebê num berçário. Nenhuma das
duas deu a menor bola para a minha infelicidade, elas adoravam o berçário.
Como adoram a escola até hoje, inclusive o curso de férias (onde deixar duas
crianças em janeiro e julho quando mamãe tem que trabalhar?). Culpa? Claro,
nunca deixei de me sentir culpada. Que mulher não se sente? Trabalhar e ser
mãe significa suportar certa medida de conflitos e de culpa. Culpa que
sempre creditei à minha herança judaico-cristã e que a literatura
psicanalítica não conseguiu aplacar: o discurso freudiano não contribuiu,
com efeito, para tornar a mãe a grande responsável pela saúde psíquica da
criança? O que fazer, então, quando a juíza, exaurida pelas sentenças em 45
dias, relatórios a cada 30 dias, conclusão em 24 horas, preferência de
idosos entre idosos, antigos entre idosos, idosos entre doentes... Se dá
conta de que não é a mãe winnicottiana, atenta a todas as necessidades das
filhas, absolutamente devotada? Cortar os pulsos?

A sensação é de estar fora do lugar. Nunca ouvi uma criança dizer que seu
pai trabalha "fora". Quem trabalha "fora" é a mãe. "Fora" é fora de casa,
referência do lugar feminino por séculos. Sensação esquisita em tempos
pós-modernos, até porque costumam dizer, por aí, que podemos (e devemos) ter
êxito como profissional, mulher, mãe, dona-de-casa, acadêmica, diretora
associativa... Ufa! Dizem que podemos (e devemos), em suma, matar um leão
por dia e ainda estarmos lindas, cheirosas e com as unhas bem feitas. Já me
vi cogitando se minha avó não era mais feliz. Mas não há como retroceder. O
gostinho da independência é muito bom. Só que o pagamento pela independência
conquistada por vezes implica não conseguir impor limites, não saber dizer
"basta". Lacan fala dessa característica da mulher: "não há limites às
concessões que cada uma faz por um homem". Acrescento: e pelos filhos. E por
tantos outros: jurisdicionados miseráveis, idosos, doentes, viúvos,
órfãos... Com frequência, cuidamos tanto dos outros que nos esquecemos de
nós mesmas. Freud diria que as mais felizes seriam aquelas capazes de amar e
trabalhar. Mas Freud era homem. Fácil demais.

Já disse que escrever, para mim, é quase compulsão. Acho que é por isso que
ultrapassei tanto as 10 linhas que me haviam sido pedidas. Mas ainda tenho
tanto a escrever!... Sobre estudos que dizem que a melhor mãe é a mãe feliz,
realizada e confiante. Sobre os dados estatísticos que demonstram (se bem
que se possa provar qualquer coisa com a estatística) que o fato de a mãe
trabalhar fora melhora o desempenho cognitivo da criança. E por aí vai. Mas
um depoimento há de ser como uma dissertação de mestrado, que, como disse
uma grande amiga minha, a gente não termina: abandona.

__________

* Márcia Hoffmann do Amaral e Silva Turri, juíza federal, duas filhas
lindas: Fernanda, de 8 anos, e Ana Luísa, de 6.


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Até,

Jéssica Sá
familiasa.blogspot.com/

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